domingo, 25 de outubro de 2015

Encomenda-se um poema que caiba dentro do cano de um calibre 12: encomenda-se a fantasia da tua morte ou ela própria - o que vem a ser a mesma coisa.

Encomenda-se um esquecimento tão forte que me leve ao gozo: um tingimento de vermelho nos sonhos: a água escorrendo as mentiras - tão suave: meu corpo nu fazendo o delicado serviço de ti: decepcionar.

Não há poema.

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Sobre o amor.

Sobre dançar em cima de penas 
e cacos de vidro.

Sobre estar debaixo do teto do prazer 
e da dor.

Sobre algo que nasce bonito, 
morre no dia seguinte 
e não conseguimos nos livrar dele.
Achei que tinha entendido.
Que era capaz de entender.
Mas não, não de verdade.
Só entendi os contornos borrados.
A semipreciosa, contida e disfarçada avidez.
Não me dei conta de que às vezes seria melhor que nunca.
Que tudo seria pedir demais.
Pois são as metades que dividem você pelo meio.
Vir a ser alma selvagem - clarão no mato escuro - vertigem de sol no rosto de bêbado.

Vir a ser sacrifício de porco - tempestade de areia na manhã clara invadida de nuvens - grito sexual atravessando o quintal.

Vir a ser onda de mar revolto - aquelar-ve, sabá, inferninho.

Vir a ser animal doméstico - Lince, gato persa amante do escuro, salamandra dormente na fogueira do abysmo.

Vir a ser olho noturno todo claro - Sarah, revirando na cama, tocada de sol, abrindo os olhos;

- Dicen los brujos lo que dicen - 

Vir a ser relâmpago azul - sobre o chapéu - da vida - nua.
Assisto o desfile por entre a fumaça os corpos que voam
andando
no vento que passa.

Assisto a cópula sangrenta da noite que dorme e sonha
a vida
que se precipita na foice

"Enquanto um espirro vem trazer de volta à delicada dimensão dos viventes que não sabem que os deuses das flores são os mesmos dos despedaçamentos."

Assisto o carnaval louco.
Ó orgia - da vida.

segunda-feira, 20 de abril de 2015

E continuo sendo eu, dentro desse montes de eu's meus enfileirados que por dentro de mim passam.
Sou eu, esse eu que se machuca seu eu carne, mas não seu eu, eu.
Eu esse eu, que não se esquece de se lembrar de você.
Eu, esse eu que senti falta do seu.

domingo, 12 de abril de 2015

Moro em mim. 
Com todos os meus medos, dúvidas e anseios. 
Com toda intensidade, saudade e liberdade.
Moro em mim. 
Com todos os sonhos, feridas e verdades.
Com todas minhas fraquezas, certezas e vontades.
Moro em mim. 
E o ser que aqui habita já não cabe mais em mim.
Transbordo.