segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Seus olhos são amuletos vivos que vibram reflectindo a lucidez de um relâmpago.

São seus olhos tempestades verdes abatendo o corpo espectral da calma e retinindo entre silêncios e visões.

Seus olhos ventre-todo-daninho: 
Amorosas borboletas girando sorvendo todas as rodas do eclipse; 
açoite pétreo na noite presença cortando veias de dia;

São seus olhos espelhos negros enfileirados cobertos por musgos onde espíritos curiosos improvisam técnicas de osteomancia, dribles de raios de sol, sombras moventes de negro adornado de plumas de escuro;

Seus olhos cobertos por labaredas que descem dos céus todos os dias em que descem;
São seus olhos animais convulsos se despedaçando continuamente no pátio vermelho donde brotam e se diluem as eras.

Seus olhos: clarata tempestas — montanhas que se perdem contemplando o brilho azul do meu punhal;

Sadhus
erram
em seus encantos.

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Seu cheiro de mata molhada revira os confins da cabana incendiada de 2012 e vem aliciar as paredes do quarto onde anoto os nomes do fogo.

Por acidente nascem e morrem galáxias.

O cheiro dos teus cabelos penetra a visão do céu de março e forma signos indecifráveis na nuvem que atinjo com flecha sempre que necessito destruir sombras que se agrupam no armário empoeirado onde há anos encontrei uma família de ratos vermelho-bebê, mortos.

Seu cheiro de matagal cortante, colonhão que se alastra pelas entranhas do poema que evito - ladainhas idiotas que trazem lágrimas aos idiotas.

E quando tropeço em sua luva esquerda repleta de secreção de amorzinho, mosquitos e cinzas de fogueira seminútil, sorvo um gole a mais do vinho do destino de todas as coisas.

E seu vestido leve leve está em todas as coisas
Tanto tanto
Que prescindo de ti.

segunda-feira, 8 de maio de 2017

L'amour (?)

Poderia ser dito que tudo que temos hoje é apenas excesso, que é da nossa própria condição humana colecionar, guardar, estocar.

Mas será que de algum modo nos apegamos?

Acredita-se que o desejo é a expectativa de possuir ou alcançar algo; algo que falta. E assim que o desejo é suprido, paramos de desejar.

Aonde nisso nos ligamos?

O que temos hoje, é o esboço do que venha a ser a maior individualidade do que se é, e o que se faz para ser, esquecendo-nos o quão coexistentes somos. Deixando de sentir, por puro comodismo, e escolhendo nos preocupar com tantas coisas banais que não incluem em nada do que possa ser algo. Porém a única utilidade do que é físico, é a quase certeza de que aquilo existe. Nos pegamos em meio ao pensamento de: Será que é verdade? Estamos tão acostumados com as aparências que ao menor sinal de proximidade nos esgueiramos e nos acorrentamos ao amargo gosto da mesmice. Nos deleitamos junto a zona de conforto imposta por pensamentos banais de existencialismo corrompido pela sociedade cruel e rude, onde egoísmo é a palavra de ordem.

É de se entender porque não nos conectamos a ninguém mais, pois sabendo de nossa própria condição nos deparamos em meio a esse marasmo da não compreensão do que se realmente é, aceitando influências externas que não deveriam ter importância para designar o que decidiriamos ser. É de se compreender todo esse medo criado pela quantidade de expectativas que buscamos cativar durante o caminho seguido. Porque é certo se saber de que tudo se tem fim. De que as coisas devem se renovar, mudar, serem diferentes. Nos assustamos em saber que o futuro é incerto. Que o passado já foi. E que o presente quem sabe você consiga dominar.

Erick Erickson propõe explicar na teoria psicossocial do desenvolvimento humano uma concepção de oito estágios psicossociais, perspectivados por sua vez em oito idades que decorrem desde o nascimento até à morte, cada estágio é atravessado por uma crise psicossocial entre uma vertente positiva e uma negativa. E decorrente desta passagem: uma virtude. Um desses estágios sempre me fascinou: Intimidade x Isolamento; e a virtude designada a este estágio é o Amor. Engraçado, nenhuma ciência explica o amor, e é até irônico pois ninguém ao menos consegue entendê-lo.

Existem-se inúmeras formas de se amar, então como pode-se caracterizar tal fundamento? Como já se existe o nome disso? O que será que sentimos realmente?

Incrível como se é mais rápido alguém entender como você se sente, do que você mesmo. Eu demoro horas para conseguir entender qualquer coisa sobre mim. Talvez seja mal virginiano, essa busca por analise profundo de tudo, e não raso. Por querer mergulhar onde poderia-se apenas molhar os pézinhos. Quem sabe eu só faça isso para durar mais. Porque tudo que eu gostaria é de tempo. De tempo para viver o que já passou de novo e novo. Por nostalgia de sentir ainda do gosto daquele tempo. Por vontade de apego. De poder pegar algo, e medo de que algo também me pegue.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Há um vendaval de morte gravitando a órbita do seu olhar: Duplo furo pro futuro: 
"El infierno es demasiado dulce".
E ai se fundem portos, afundam navios, dançam anjos sobre a ponta da agulha.
Um vendaval no horizonte cruzado de barcos vermelhos.
Talvez os escribas sumérios houvessem tentado prender os 99 infernos dos teus olhos no vão do barro em vão.
Talvez os filhos da terra só possam se alimentar de cimento.
Há um pavilhão de exércitos esquecidos da dupla chama da fogueira dos teus olhos.
E vendavais nascem e morrem em seus convés alimentando as dunas desassossegadas do deserto azul.
Que alicia suas vítimas com mãos de vento.
Na órbita do teu olhar gravitam monstros que lutam diariamente para manter a chama da vida.
Há um carrossel, um temporal de santos colhendo frutas no pomar eclipsado de véus rasgados.
Um vendaval sem nuvens dobrado sobre si mesmo formando as voltas intermináveis do corpo nu da bestial e gemente mulher insaciável do bosque que se localizam no ardor negro entre a terra e as estrelas.
Há um leque contorcido entre as sombras e os destroços do templo se escondendo na tirania do estilhaçamento inevitável
dos teus passos.
Não sei como dizer-te que algas remodelam seu corpo e que sob o aguaral seus gestos imprimem lentos no caleidoscópio de argila nas veias da eternidade.

Talvez o silêncio em flores,

transparentes,
desabrochadas,

caídas,
despetaladas

Se enerve na contemplação mútua do movimento das estrelas cadentes que habitam duas mentes ao mesmo tempo possa enfim a ti dizer que as árvores, os minerais, as feras, os labirintos e os incêndios remodelam a ti submergido num abysmo de mim e a ti dão, finalmente, a doçura que não pudeste despertar

quando aqui.
Meu corpo
Em frente à janela
O vidro colado ao peito
E o ar suspenso
Respira.

Meu corpo
Aberto a janela
Vaga lume na massa escura
Cintila.

Meu corpo
No teu corpo
Da janela nebulosa poeira
Expira
Pira!

CONTEMPLAÇÃO DA NOITE


Vento de fim varrendo a cidade verde
ó, perdição
Animais deitados observam o abysmo
azul
nos seus olhos
vermelhos
A noite, grande prostituta, se decompõe
no firmamento
pleno de nuvens
e pó de estrelas
dormidas
do lado de dentro do quarto
fechado
Abrem-se as pernas - Madrugada
olhando no rosto de dentro
de tudo
vendo nada
As confortáveis mordaças se refugiam
beijando escombros
tecendo grinaldas
e estradas.