quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Há um vendaval de morte gravitando a órbita do seu olhar: Duplo furo pro futuro: 
"El infierno es demasiado dulce".
E ai se fundem portos, afundam navios, dançam anjos sobre a ponta da agulha.
Um vendaval no horizonte cruzado de barcos vermelhos.
Talvez os escribas sumérios houvessem tentado prender os 99 infernos dos teus olhos no vão do barro em vão.
Talvez os filhos da terra só possam se alimentar de cimento.
Há um pavilhão de exércitos esquecidos da dupla chama da fogueira dos teus olhos.
E vendavais nascem e morrem em seus convés alimentando as dunas desassossegadas do deserto azul.
Que alicia suas vítimas com mãos de vento.
Na órbita do teu olhar gravitam monstros que lutam diariamente para manter a chama da vida.
Há um carrossel, um temporal de santos colhendo frutas no pomar eclipsado de véus rasgados.
Um vendaval sem nuvens dobrado sobre si mesmo formando as voltas intermináveis do corpo nu da bestial e gemente mulher insaciável do bosque que se localizam no ardor negro entre a terra e as estrelas.
Há um leque contorcido entre as sombras e os destroços do templo se escondendo na tirania do estilhaçamento inevitável
dos teus passos.
Não sei como dizer-te que algas remodelam seu corpo e que sob o aguaral seus gestos imprimem lentos no caleidoscópio de argila nas veias da eternidade.

Talvez o silêncio em flores,

transparentes,
desabrochadas,

caídas,
despetaladas

Se enerve na contemplação mútua do movimento das estrelas cadentes que habitam duas mentes ao mesmo tempo possa enfim a ti dizer que as árvores, os minerais, as feras, os labirintos e os incêndios remodelam a ti submergido num abysmo de mim e a ti dão, finalmente, a doçura que não pudeste despertar

quando aqui.
Meu corpo
Em frente à janela
O vidro colado ao peito
E o ar suspenso
Respira.

Meu corpo
Aberto a janela
Vaga lume na massa escura
Cintila.

Meu corpo
No teu corpo
Da janela nebulosa poeira
Expira
Pira!

CONTEMPLAÇÃO DA NOITE


Vento de fim varrendo a cidade verde
ó, perdição
Animais deitados observam o abysmo
azul
nos seus olhos
vermelhos
A noite, grande prostituta, se decompõe
no firmamento
pleno de nuvens
e pó de estrelas
dormidas
do lado de dentro do quarto
fechado
Abrem-se as pernas - Madrugada
olhando no rosto de dentro
de tudo
vendo nada
As confortáveis mordaças se refugiam
beijando escombros
tecendo grinaldas
e estradas.


Não queira com seus olhos torpes 
mirar o sol da manhã,
pois o sol detesta os tolos 
e por certo te odeia.

E nem com essas mãos brancas 
tocar o escuro da noite 
pois que ela se enoja com fracos  
com os que tremem no frio 
e temem o negro.

Certo é que as feras deste deserto 
gostam de brincadeiras de sangue.

E que por  mais firme que seja sua voz, 
seu passo permanece langue.