segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Seu cheiro de mata molhada revira os confins da cabana incendiada de 2012 e vem aliciar as paredes do quarto onde anoto os nomes do fogo.

Por acidente nascem e morrem galáxias.

O cheiro dos teus cabelos penetra a visão do céu de março e forma signos indecifráveis na nuvem que atinjo com flecha sempre que necessito destruir sombras que se agrupam no armário empoeirado onde há anos encontrei uma família de ratos vermelho-bebê, mortos.

Seu cheiro de matagal cortante, colonhão que se alastra pelas entranhas do poema que evito - ladainhas idiotas que trazem lágrimas aos idiotas.

E quando tropeço em sua luva esquerda repleta de secreção de amorzinho, mosquitos e cinzas de fogueira seminútil, sorvo um gole a mais do vinho do destino de todas as coisas.

E seu vestido leve leve está em todas as coisas
Tanto tanto
Que prescindo de ti.

segunda-feira, 8 de maio de 2017

L'amour (?)

Poderia ser dito que tudo que temos hoje é apenas excesso, que é da nossa própria condição humana colecionar, guardar, estocar.

Mas será que de algum modo nos apegamos?

Acredita-se que o desejo é a expectativa de possuir ou alcançar algo; algo que falta. E assim que o desejo é suprido, paramos de desejar.

Aonde nisso nos ligamos?

O que temos hoje, é o esboço do que venha a ser a maior individualidade do que se é, e o que se faz para ser, esquecendo-nos o quão coexistentes somos. Deixando de sentir, por puro comodismo, e escolhendo nos preocupar com tantas coisas banais que não incluem em nada do que possa ser algo. Porém a única utilidade do que é físico, é a quase certeza de que aquilo existe. Nos pegamos em meio ao pensamento de: Será que é verdade? Estamos tão acostumados com as aparências que ao menor sinal de proximidade nos esgueiramos e nos acorrentamos ao amargo gosto da mesmice. Nos deleitamos junto a zona de conforto imposta por pensamentos banais de existencialismo corrompido pela sociedade cruel e rude, onde egoísmo é a palavra de ordem.

É de se entender porque não nos conectamos a ninguém mais, pois sabendo de nossa própria condição nos deparamos em meio a esse marasmo da não compreensão do que se realmente é, aceitando influências externas que não deveriam ter importância para designar o que decidiriamos ser. É de se compreender todo esse medo criado pela quantidade de expectativas que buscamos cativar durante o caminho seguido. Porque é certo se saber de que tudo se tem fim. De que as coisas devem se renovar, mudar, serem diferentes. Nos assustamos em saber que o futuro é incerto. Que o passado já foi. E que o presente quem sabe você consiga dominar.

Erick Erickson propõe explicar na teoria psicossocial do desenvolvimento humano uma concepção de oito estágios psicossociais, perspectivados por sua vez em oito idades que decorrem desde o nascimento até à morte, cada estágio é atravessado por uma crise psicossocial entre uma vertente positiva e uma negativa. E decorrente desta passagem: uma virtude. Um desses estágios sempre me fascinou: Intimidade x Isolamento; e a virtude designada a este estágio é o Amor. Engraçado, nenhuma ciência explica o amor, e é até irônico pois ninguém ao menos consegue entendê-lo.

Existem-se inúmeras formas de se amar, então como pode-se caracterizar tal fundamento? Como já se existe o nome disso? O que será que sentimos realmente?

Incrível como se é mais rápido alguém entender como você se sente, do que você mesmo. Eu demoro horas para conseguir entender qualquer coisa sobre mim. Talvez seja mal virginiano, essa busca por analise profundo de tudo, e não raso. Por querer mergulhar onde poderia-se apenas molhar os pézinhos. Quem sabe eu só faça isso para durar mais. Porque tudo que eu gostaria é de tempo. De tempo para viver o que já passou de novo e novo. Por nostalgia de sentir ainda do gosto daquele tempo. Por vontade de apego. De poder pegar algo, e medo de que algo também me pegue.